segunda-feira, 16 de abril de 2012

Paulo Bornhausen: ''Máfia do jogo ofereceu dinheiro para tentar aprovar legalização no Congresso''


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O vídeo acima foi feito pelo Poder Online no dia 16 de junho de 2010, durante a sessão em que a Câmara dos Deputados negou urgência para a votação do projeto de legalização dos bingos.

Deputado eleito, mas atuando como secretário de Desenvolvimento Econômico Sustentável de Santa Catarina, Paulo Bornhausen na época exercia o mandato de deputado federal. E não havia ainda se transferido do DEM para o PSD.

Naquela sessão ele subiu à tribuna e denunciou que a “máfia do jogo” estava atuando no Congresso, tentando aliciar deputados com “propostas não-republicanas”. E que ele mesmo fora procurado.

Agora que as gravações das conversas telefônicas entre o bicheiro Carlinhos Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (DEM) revelaram parte das articulações dos bingueiros no Congresso, Poder Online voltou a Paulo Bornhausen para tentar obter mais detalhes daquela sua denúncia.

Poder Online – Naquele dia, o senhor disse na tribuna que foi procurado por bingueiros com “propostas não-republicanas”. O senhor mantém a denúncia?

Paulo Bornhausen – Mantenho, claro. Minha intervenção foi decisiva para a derrubada do projeto. Porque ficou claro ali que quem votasse a favor poderia ficar manchado por essa gente.

Poder Online – E quem foi que lhe abordou?

Paulo Bornhausen – O caso é que esses caras têm tentáculos em todos os lados. Jogo, bingo, bicheiros… Essa máfia está em todos os estados. No meu caso, foi um advogado dos bingueiros de Santa Catarina.

Poder Online – Qual o nome dele?

Paulo Bornhausen – O problema é que ele falou de maneira meio enviesada. Eu, então, afirmei: “Se o que você está querendo dizer é o que imagino, serei obrigado a lhe dar voz de prisão.” Aí ele recuou. Disse que não tinha insinuado nada. “Você está louco? Não é nada disso”, afirmou. Então fiquei numa situação em que não posso acusá-lo publicamente.

Poder Online – O senhor acha que esse pessoal do jogo procurou outros parlamentares com oferecimento de dinheiro?

Paulo Bornhausen – Não quero dizer que alguém tenha aceitado. A grande maioria do Congresso é contra o jogo. E até tem gente que defende a legalização com sinceridade, porque acredita. Mas a verdade é que o político é sempre um alvo fácil dessa gente. Então os mafiosos vêm oferecendo dinheiro, vantagens indevidas, enfim, com propostas não-republicanas.

Poder Online – Por que o político é um alvo fácil?

Paulo Bornhausen – Ora, primeiro porque o político circula em todos os ambientes. E, como eu disse, essa máfia tem tentáculos em todos os lugares. Depois, porque o cara sabe que o político precisa de dinheiro para sua campanha eleitoral. Aí ele oferece. Mas, no momento em que você aceita, você está amarrado a eles.

Poder Online – O senhor acha que foi esse o caso do Demóstenes Torres?

Paulo Bornhausen – Não posso afirmar. Não conheço o caso detalhadamente.

Poder Online – Mas vocês conviveram quando o senhor estava no mesmo partido que o dele, o DEM.

Paulo Bornhausen – Convivemos pouco. Mas tivemos contato, sim, quando integramos juntos a Executiva Nacional do partido.

Poder Online – E surpreendeu-se com as gravações revelando a proximidade entre o senador e o Carlinhos Cachoeira?

Paulo Bornhausen – Muito. O Demóstenes que eu conheci não é esse que apareceu aí. Eu não tinha a mais simples pista de que este Demóstenes existisse. Sempre o considerei um político consistente, correto. O outro Demóstenes, aquele que eu conheci, prestava um grande serviço ao país. Eu não podia imaginar que houvesse este Demóstenes revelado nas gravações telefônicas.

Poder Online – E aí em Santa Catarina? Surgiram denuncias de envolvimento de um colega seu de governo, o secretário de Comunicação, Ênio Branco, com o Carlinhos Cachoeira. Há gravações citando o nome dele, que parece ter também ligações com o próprio Demóstenes.

Paulo Bornhausen – Eu conheço bem o Ênio. Sou amigo dele. É uma pessoa muito conceituada por aqui, e por quem tenho estima. O Ênio nunca mexeu com jogo em Santa Catarina. Nunca o vi conversando sobre assuntos correlatos a esse por aqui. Ele declarou que não tem nada com o Cachoeira e eu acredito.